A Amazónia em Viagem, O Museu Nacional de Etnologia em Belmonte”
(de 21 de Julho a 11 de Março)
Os objectos estão agora distantes dos homens e mulheres com quem partilharam a mesma língua, no fabrico, no uso e nos modos da sua apropriação e fruição. Na sua distância de objectos de museu, evocam desde logo, a imensa natureza que propicia os materiais de que são feitos. São uma pequena amostra da profusão de plantas, madeiras, fibras, frutos, sementes, aves e toda a espécie de animais, resinas e seivas, terras e pigmentos.
No tempo longo da sua existência, os índios desenvolveram procedimentos e formas de aproveitamento dos recursos, cuja eficácia e aparente simplicidade convive com elaborações de grande sofisticação técnica e plástica. Modos de fazer e dizer, motivos e desenhos constroem os sentidos com que cada grupo projecta a sua identidade.
Uma humanidade que se prolonga em todos os seres que habitam a floresta: cativos e próximos; selvagens e esquivos; ocultos e incertos. Seres que reaparecem na forma dos artefactos, na geometria dos entrançados, nos grafismos. Máscaras, adereços e pinturas corporais, o canto e o som das flautas são a figuração e a voz do universo em que cada uma destas sociedades se revela.
Os índios já lá se encontravam quando os navegadores do Ocidente viram aquelas terras nunca vistas. E lá permaneceram e continuam. Eles ajudam-nos a pensar sobre a diversidade e desigualdade do mundo, a qualidade dos olhares que nele se cruzam e o que nos é exigido de atenção e necessidade de conhecer e de inventar todas as formas de diálogo antes negado.
A exposição mostra alguns dos objectos de entre os que podem ser vistos nas Galerias da Amazónia, reserva do Museu Nacional de Etnologia aberta ao público. Ela é também um convite para todos os que desejam saber mais sobre estes povos e assim aprender a saber mais sobre nós próprios.
Joaquim Pais de Brito